Dr. Peres Indica par o 2º Turno dia 26/10/2014.
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA CONCEDIDA AO BOM DIA BRASIL ( 22 de setembro de 2014 )
DOA A QUEM DOER.
Fonte: http://www.saladeimprensadilma.com.br/2014/09/22/integra-da-entrevista-concedida-ao-bom-dia-brasil/
Jornalista Chico Pinheiro (apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – A senhora mesma admitiu numa entrevista que tudo indica que coisas graves aconteceram ali (na Petrobras). Como é possível que… a dúvida que a gente fica, como é possível tudo isso acontecer sem que a senhora soubesse?
Dilma Rousseff – Sabe uma coisa, Chico Pinheiro? Você veja só, nós estamos hoje com a Polícia Federal investigando, nós temos uma investigação do Ministério Público, nós temos, inclusive, um instituto da delação premiada ocorrendo para poder descobrir o que acontece com crimes de corrupção. Crimes de corrupção, eles não são praticados à luz do dia, eles têm de ser investigados. Por que é que nós descobrimos? Nós descobrimos – porque fomos nós que descobrimos – porque quem descobriu é Polícia Federal, ligada ao Ministério da Justiça, portanto, ligado a um órgão do meu governo, a Polícia Federal integra o meu governo.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Um órgão de Estado…
Dilma Rousseff – É um órgão do governo, porque a Polícia Federal hoje tem autonomia. Teve épocas que ela não teve autonomia. Ela era um órgão de Estado com interferência do governo, e nós demos integral… [autonomia]
Jornalista Miriam Leitão – Mas a senhora tentou ter acesso, mas não conseguiu, ou seja…
Dilma Rousseff – Aliás, quem instituiu todos os mecanismos de autonomia da Polícia Federal foi o Governo Lula. Antes do Governo Lula a Polícia Federal não saía por aí investigando o que lhe passasse pela cabeça, hoje sai, hoje, se ela tiver indício, ela pode investigar doa a quem doer e nós não varremos para baixo do tapete nenhuma das investigações. Eu, inclusive, tenho estado muito preocupada com uma questão, eu acho que o Brasil precisa de combater a corrupção de forma determinada. Nós tomamos uma série de providências, por exemplo, nós demos também estatuto de ministério para a CGU, que é a Controladoria Geral do Estado [da União], que é outro órgão que investiga também. Porque investigar que eu estou falando não é investigar no sentido jornalístico da palavra, estou falando investigar no sentido de quem produz prova. Quem produz prova para quê? Para acabar com impunidade. Porque não basta só investigar, você tem de punir.
Miriam Leitão – Candidata.
Dilma Rousseff – Se você não punir você está protegendo a corrupção. Então, hoje no Brasil quem investiga? Investiga Ministério Público, investiga Polícia Federal. Essas provas que têm de sólidas para permitir a condenação daqueles que praticaram atos ilícitos, ela vai ser olhada pelo Juiz; e o Juiz, no contraditório, vai permitir que a defesa, por exemplo, apresente seus argumentos e as suas provas.
Miriam Leitão – Candidata é…
Dilma Rousseff – Agora, só concluindo, Miriam, o raciocínio. Então, descobrir esse fato dentro da Petrobras requereu não só o empenho da Polícia Federal, mas também nós chegamos a isso vias, numa via indireta, através de uma investigação de doleiros. Foi assim que se chegou à investigação da Petrobras. Eu acredito, e não tenho como dizer o contrário, que se você…
Miriam Leitão – Candidata…
Dilma Rousseff – Que se você não investigar, você não descobre…
Miriam Leitão – Candidata só para eu entender, mas…
Dilma Rousseff – É impossível descobrir sem investigar.
Miriam Leitão – Eu queria perguntar o seguinte: o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, disse à Justiça o seguinte: “A decisão sobre composição da diretoria é feita no âmbito do governo, o presidente da Petrobras é comunicado.” E ele disse que o nome de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor que está preso, depois de… ele passou oito anos na diretoria, e foi apresentado, segundo o Sérgio Gabrielli, foi apresentado e nomeado pelo Conselho de Administração. A senhora, com todos os poderes no Conselho de Administração, do Ministério das Minas e Energia, a senhora não soube de nada, a senhora não… O que eu queria saber é o seguinte, a senhora não participou da decisão da escolha de Paulo Roberto Costa?
Dilma Rousseff – Miriam, vou te explicar uma coisa: primeiro, Paulo Roberto Costa não foi escolhido fora dos quadros da Petrobras, Paulo Roberto…
Miriam Leitão – Ele chegou à diretoria do governo do PT.
Dilma Rousseff – Só um pouquinho. Paulo Roberto Costa tem 30 anos de Petrobras, e antes de ir para a diretoria da Petrobras ele fez uma carreira dentro da Petrobras.
Miriam Leitão – Nem todo mundo chega à Diretoria, candidata.
Dilma Rousseff – Inclusive, pois é, mas eu vou dizer por que ele se credenciou para chegar à Diretoria.
Miriam Leitão – É indicado pelo…
Dilma Rousseff – No governo do Fernando Henrique Cardoso ele foi diretor da Gaspetro, naquela época a Gaspetro cuidava dos gasodutos do país que estávamos iniciando, ela era um órgão importante. Foi também gerente de exploração e prospecção…
Miriam Leitão – Isso é carreira, candidata.
Dilma Rousseff – Foi gerente de…
Miriam Leitão – Uma coisa é carreira, outra é diretoria.
Dilma Rousseff – Só um pouquinho, deixa eu explicar. Gerente de exploração e prospecção. Quando foi escolhido, ele é escolhido, a Petrobras é muito importante, muito importante, ela é… como eu escolhi a diretoria da Petrobras, quando eu nomeei a nova diretoria eu escolhi, eu olhei quais eram as pessoas…
Sr. Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – E teve indicação política, não é, candidata?
Dilma Rousseff – Ah não, mas eu te asseguro no meu…
Chico Pinheiro – PP, pro PMDB.
Dilma Rousseff – O que eu escolhi é responsabilidade minha, não foi…
Jornalista Ana Paula Araújo – Mas, candidata, a senhora chegou até a dizer numa entrevista recente…
Dilma Rousseff – A Petrobras não foi uma indicação política no meu caso, e não foi também no caso do Lula.
Ana Paula Araújo – Mas candidata…
Dilma Rousseff – O Sr. Paulo Roberto tinha credenciais para ser escolhido diretor, é isso que eu estou tentando falar…
Ana Paula Araújo – Mas vamos falar da demissão dele agora, então, candidata.
Dilma Rousseff – A descoberta dele, a descoberta que ele fez isso é uma surpresa. Por quê? Porque eu, como quase todos os brasileiros, acredito que os funcionários da Petrobras, eram funcionários de carreira, com 30 anos de carreira. São pessoas testadas, investigadas.
Ana Paula Araújo – Mas uma surpresa, foi uma surpresa para a senhora depois de oito anos, candidata, ele ficou oito anos como seu subordinado, foi uma surpresa para a senhora descobrir isso, a senhora levou oito anos para descobrir que era um funcionário corrupto?
Dilma Rousseff – Foi, foi uma surpresa. Foi, se ele fosse, se eu soubesse que ele era corrupto ele estava imediatamente demitido. Eu não compactuo, não compactuei na minha vida e jamais o farei com práticas de ilícito, práticas criminosas de corrupção.
Ana Paula Araújo – Candidata queria falar agora da sua campanha eleitoral.
Dilma Rousseff – Eu tenho uma trajetória política que mostra isso.
Ana Paula Araújo – Queria falar da sua campanha eleitoral na TV em que a senhora diz que se a sua adversária Marina for eleita que os pobres vão passar fome, os banqueiros vão fazer as maiores maldades com o povo, acaba o pré-sal, as pessoas não vão mais comprar casa própria, enfim, claro que a sua adversária nega o fundamento em todas essas acusações. A minha pergunta é: a senhora acha legítimo levar o debate político para esse lado, ao invés de discutir propostas, soluções para o país, ficar botando medo nas pessoas?
Dilma Rousseff – Veja bem, é interessantíssimo, tudo que eu falo está no programa da candidata, a candidata diz: “Vou tornar o Banco Central independente.” Ora, Banco Central independente nos termos do Brasil é simplesmente colocar um quarto poder na Praça dos Três poderes, aí vai chamar Praça dos Quatro Poderes.
Sr. Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Mas ela falou que…
Dilma Rousseff – Está escrito isso no programa da candidata.
Chico Pinheiro – Mas não foi do Banco Central, candidata…
Dilma Rousseff – Mas não é só isso, ela diz que vai reduzir o papel dos bancos públicos, então gostaria de dar esse exemplo.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Olha, o próprio Procurador-Geral da República, o Rodrigo Janot, que é Procurador Eleitoral.
Dilma Rousseff – Meu querido, ele pode ter a opinião dele.
Chico Pinheiro – Pois é.
Dilma Rousseff – Ele tem direito.
Chico Pinheiro - Mas não é só uma opinião, a Procuradoria é um órgão independente.
Dilma Rousseff – Mas eu posso, eu posso…
Chico Pinheiro – O dever a Procuradoria é zelar pela lisura do processo eleitoral, ele diz…
Ana Paula Araújo – A Procuradoria diz que essas peças de propaganda é tendenciosa.
Chico Pinheiro – Olha ele diz o seguinte, que na sua campanha…
Dilma Rousseff – Eu tenho de ser julgada pelo pleno do Tribunal Superior Eleitoral, não é pelo procurador.
Chico Pinheiro – Na sua campanha, só ler textualmente o que ele disse, olha: uma peça de propaganda, a peça de propaganda, uma peça da sua campanha tendenciosa e que poderia gerar estados emocionais desapegados da experiência real, ou seja, na opinião dele, isso não é verdade, haveria omitido.
Dilma Rousseff – Ele disse poderia, ele disse poderia, é uma opinião dele. Isso vai ser julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, não é? O Tribunal vai ter de dar uma opinião. Do meu ponto de vista, eu quero meu direito de defesa nesse caso.
Chico Pinheiro – A senhora não considera que está amedrontando as pessoas?
Dilma Rousseff – Não, eu acho que eu estou alertando, por exemplo: reduzir os papeis dos bancos públicos, Caixa, Banco do Brasil, BNDES, o que significa? Imediatamente eu quero saber como é que vão financiar a infraestrutura no Brasil. Hoje, como é que financia? Nós damos para poder fazer qualquer, qualquer obra de infraestrutura, 30 anos para pagar, cinco anos de carência, 5% de juros. O subsídio está no fato de que os 5% de juros, se for olhado em termos do juro do mercado, ninguém fará infraestrutura no Brasil; Minha Casa, Minha Vida, por quê? Porque os juros de mercado é 25%. O juro de mercado não compadece com o financiamento para a infraestrutura, não é financiamento de longo prazo. Isso não é medo, isso é real. Não sai rodovia, ferrovia, porto, aeroporto, não sai metrô, não sai VLT, esquece, porque não sai.
Miriam Leitão – Candidata.
Dilma Rousseff – Segunda coisa, eu vou dar dois exemplos, você me permita: Minha Casa, Minha Vida. Minha Casa, Minha Vida para pessoas que a faixa maior até R$ 1.600,00, se você tirar o empréstimo no mercado, você vai pagar R$ 940,00 ou algo parecido com R$ 940,00, se for uma pessoa que recebe R$ 800,00, porque eu estou falando até R$ 1.600,00, a prestação dele da casa própria é maior do que ele ganha. Nós cobramos 5% da renda, portanto, o governo coloca um subsídio nessa faixa entre 90% a 95% do valor do imóvel. Passa isso para banco privado, e nunca esse país vai ver uma casa própria para a população mais pobre.
Miriam Leitão – Candidata.
Dilma Rousseff – Terceiro exemplo: eu quero saber como é que farão o Plano Safra? Dos R$ 156 bilhões que nós colocamos esse ano, R$134 é com juro negativo, R$ 134 bilhões.
Miriam Leitão – Candidata.
Dilma Rousseff – Eu não sei se vocês acreditam que os bancos privados vão financiar isso a esse custo.
Miriam Leitão – Mas vamos falar em juros e financiamento em banco, ninguém está falando em acabar com os bancos públicos, apenas ter uma participação maior. Mas o que eu queria perguntar…
Dilma Rousseff – Não, mas isso daí você vai me explicar como é que é reduzir, reduzir para quanto?
Miriam Leitão – Olha aqui, o que, eu queria…
Dilma Rousseff – Eu reduzo pela metade o financiamento da agricultura, reduzo à metade o financiamento da infraestrutura, reduzo quanto do Minha Casa, Minha Vida? Porque não pode ser assim, oh, não pode dizer: “Vou reduzir, vou reduzir!” E aí eu é que eu estou colocando medo? Ela tem um alinhamento claro, ela tem uma posição favorável aos bancos, eu não tenho. Eu acho que os bancos são importantíssimos, mas eu sei que o país precisa de infraestrutura, as pessoas precisam de casa própria. Eu não sou a favor de desmame da indústria, não sou, acho que a indústria tem de ter política industrial, ela é contra conteúdo nacional, eu sou a favor.
Miriam Leitão – Candidata deixa a gente… Candidata, o seguinte: outros países, como, por exemplo, o Reino Unido, o Partido Trabalhista decidiu pela autonomia do Banco Central, isso reduziu os juros de longo prazo, estabeleceu uma política monetária tranquila, ninguém acusou o Partido Trabalhista ou em outros países, no Chile, por exemplo, de isso empobreceu os e defendeu os bancos? Quer dizer, por que não é melhor levar argumentos mais racionais em vez de usar um argumento desses que é um argumento, é… não faz sentido esse argumento.
Dilma Rousseff – Veja você, Miriam, eu vou fazer a comparação com o Banco Central americano. Eu já falei isso com você, inclusive, na outra entrevista. Qual é o princípio do chamado Federal Reserve? A independência do Banco Central Americano está baseado no máximo emprego, estabilidade no curto prazo e juros moderados no longo prazo, isso aqui no Brasil é considerado extrema heterodoxia, aqui o Banco Central persegue única e exclusivamente controle da inflação. Lá persegue…
Miriam Leitão – E não tem conseguido, o seu Banco Central não tem conseguido.
Dilma Rousseff – Mas nem eles, nem eles. Então…
Miriam Leitão – Nem eles? Eles estão com uma inflação com menos de 2%.
Dilma Rousseff – Querida, o que é extremamente problemático, você sabe que deflação hoje…
Miriam Leitão – Deflação, eles não estão com deflação? Candidata, eles estão com a inflação de menos de 2%, eles não estão com uma deflação nos Estados Unidos, nós estamos com a inflação acima da meta.
Dilma Rousseff – É muito bom você falar isso. A meta do Banco Central Americano…
Miriam Leitão – É 2%.
Dilma Rousseff – É 2%, eles estão preocupados pensando na hipótese de elevar juros – é só olhar as declarações da Presidenta do Banco Central Americano, a Yellen, a Janet Yellen -, eles estão preocupados, porque os preços estão crescendo menos. Quando os preços crescem menos e tem processos deflacionários, quem tem dívidas muito elevadas, como eles têm – eles têm dívidas, não só internas, como externas, extremamente elevadas, eles têm problemas.
Miriam Leitão – Por que se…
Dilma Rousseff – Hoje no mundo ninguém consegue, ninguém está conseguindo cumprir todas as metas no ponto, oscila, lá também oscila, aqui oscila, só que tem que aqui nós não podemos oscilar…
Mirian Leitão – Aqui estou o teto.
Dilma Rousseff – Mas veja bem, no caso da Alemanha e no caso do Banco Central Europeu, o Banco Central Europeu tem um problema seriíssimo, se houver deflação na Europa, eles entram numa espiral de recessão brutal, por quê? Porque eles têm uma montanha de dívida para girar. Se os preços caem eles não conseguirão girar a dívida deles. Então hoje tem uma crise no mundo, o que não é possível é tratar com dois pesos e duas medidas, o Brasil e o resto do mundo.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Ok, vamos fazer um pequeno intervalo, a gente vai tratar desses assuntos daqui a pouquinho aqui no Bom Dia Brasil. É já, já.
(intervalo)
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Nós voltamos aqui com a entrevista no Bom Dia Brasil da candidata Dilma Rousseff. Miriam Leitão tem uma pergunta sobre economia e emprego, não é Miriam?
Miriam Leitão – É. Candidata, apesar dos abundantes dados mostrando que os outros países estão muito melhores do que o Brasil em termos de crescimento, apesar dos problemas, que cada país tem seu problema, mas eles estão com desempenho muito menos em inflação e em crescimento, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Chile, Colômbia, Colômbia 5% de crescimento, a Inglaterra 3% de crescimento. Apesar disso, o Brasil está com 0,3% de crescimento, mas a senhora sempre diz que a culpa é da crise internacional. Mas eu estou querendo saber e acho que isso é importante para o eleitor, é como a senhora pretende reverter a situação de estagnação e inflação alta para o próximo mandato, se a senhora o receber das urnas?
Dilma Rousseff – Veja, Miriam, eu não concordo com a sua avaliação da situação internacional não. Eu acho…
Miriam Leitão – São os números.
Dilma Rousseff – Que nós estamos – inclusive eu vou falar dos números -, nós estamos num momento que eu acho que passamos por um período de barriga para baixo da crise, ou seja, a crise internacional, ela deu uma contornada.
Miriam Leitão – A nossa barriga está maior.
Dilma Rousseff – Não, minha querida, a barriga maior é a barriga da Europa, a maior barriga que tem no mundo é a barriga europeia. Nós estamos também com um problema…
Miriam Leitão – A Alemanha, com certeza, 1,5 e nós 0,3.
Dilma Rousseff – Não, a Alemanha não está crescendo 1,5, a Alemanha…
Miriam Leitão – Ela está crescendo 1,5.
Dilma Rousseff – A Alemanha está crescendo 0.8, e há dúvidas a respeito da continuidade, tanto é que o índice, aquele ZEW, que é o índice que mede a confiança do empresariado na economia, cai pelo nono mês consecutivo, ou seja…
Miriam Leitão – Mas qual remédio? O que a senhora vai fazer para crescer no próximo mandato, candidata?
Dilma Rousseff – A Alemanha, que tem a indústria mais competitiva do mundo, está numa situação difícil. Quero alertar que tem uma outra questão difícil nesse semestre, que é a queda do crescimento chinês, que não está, que estava em 9, agora está em 6,5 o crescimento industrial.
Chico Pinheiro – A senhora está satisfeita com a nossa situação?
Miriam Leitão – Qual a solução?
Dilma Rousseff – Não, não, eu só estou dizendo isso, porque ela deu alguns números dizendo que a situação era ótima. Não é ótima.
Miriam Leitão – Não é ótima.
Chico Pinheiro – A nossa é boa?
Miriam Leitão – Não é ótima, eu estou falando da situação…
Dilma Rousseff – A situação no mundo é extremamente problemática, nós não temos mercados, a situação está em compressão.
Chico Pinheiro – Candidata.
Dilma Rousseff – Mesmo…
Miriam Leitão – A senhora pretende fazer, o que a senhora pretende fazer para reverter a situação?
Chico Pinheiro – Mas, em função do tempo, qual é…
Dilma Rousseff – Mesmo os nossos vizinhos, deixa eu continuar, porque senão é impossível.
Miriam Leitão – Mas a minha pergunta a senhora não está respondendo.
Dilma Rousseff – Eu respondo, eu estou fazendo a premissa para chegar na conclusão.
Miriam Leitão – É que fica muito tempo na premissa.
Dilma Rousseff – Pois é, mas a vida é complicada, é complicada. Mas, voltando, os nossos vizinhos também estão em situação difícil, o nosso maior importador, que é a Argentina aqui na região, está numa situação bem problemática, 80% dos nossos manufaturados vão para lá.
Chico Pinheiro – Mas qual a solução que nós temos?
Dilma Rousseff – Eu estou, então, construindo a seguinte frase: Nós estamos numa situação em que o Brasil está na defensiva em relação à crise internacional, protegendo emprego, salário e investimento, três variáveis que nós protegemos: emprego, salário e investimento.
Chico Pinheiro – Como é que a senhora vai fazer?
Dilma Rousseff – Por que nós protegemos isso? Porque vamos apostar numa retomada, na retomada você muda a sua política econômica de defensiva para ofensiva, e como é que se faz?
Chico Pinheiro – Como é que vem a retomada?
Dilma Rousseff – Como é que se faz isso? Se faz isso de duas formas: eu posso, na retomada, gastar menos do que eu estou gastando para sustentar emprego…
Chico Pinheiro – Mas como faz a retomada?
Dilma Rousseff – … emprego, salário e investimento, só que investimento eu tenho de manter, porque se eu não mantiver investimento eu comprometo emprego e salário. Então o que nós achamos? Nós achamos que a gente tem de ver como é que evolui a crise, se ela evoluir para uma situação um pouco melhor, como está aparecendo que nos Estados Unidos, não é em nenhum outro país – o Reino Unido quase empata com a gente em tamanho de economia e importância -… o que importa, os Estados Unidos evoluindo bem, eu acho que o Brasil pode entrar numa outra fase, que precisa menos estímulos, precisa, pode ser, pode ficar mais entregue à dinâmica natural da Economia e pode perfeitamente passar por uma retomada. Por quê? Porque nós temos hoje… o que está controlado? A dívida, o Brasil tem uma das menores dívidas do mundo. O que está controlada? Está controlado também o seguinte fato, nós não temos flanco externo. Flanco externo é o seguinte: o mundo pode ter flutuações que nós não quebramos, não só por reservas, mas porque recuperamos as condições de produção. O que deu um impacto muito grande nas nossas contas externas? A Petrobras. Hoje a Petrobras não vai dar mais impacto nas contas externas, a Petrobras atingiu o recorde agora estável de dois bilhões, aliás, desculpa, 2.300.000 barris dia, entre 200 e 300.
Miriam Leitão – Permanece produzindo o déficit externo, a Petrobras?
Dilma Rousseff – A Petrobras vai produzir déficit externo por um tempo muito curto, ela começou… todas as contratações da Petrobras estão feitas. Que nós teremos um aumento na produção de petróleo nos transformando em exportadores, não há a menor dúvida, nem das consultorias internacionais, nem nossa.
Miriam Leitão – Então a sua forma…
Dilma Rousseff – Nós passamos agora a ter um recorde na produção do pré-sal: 530 mil barris dia, a Petrobras…
Chico Pinheiro – Mas que…
Miriam Leitão – Mas…
Dilma Rousseff – … a Petrobrás tem condições, porque foi a maior responsável pelo nosso déficit em 11, 12 e 13 [2011, 2012 e 2013].
Chico Pinheiro – Parece que a sua proposta…
Miriam Leitão – Exatamente, agora…
Dilma Rousseff – Ela foi a maior responsável. Quero falar para o telespectador: Pode ficar tranquilo, a Petrobras está…
Sr. Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Vai se recuperar.
Dilma Rousseff – Não, ela já se recuperou, a Petrobras…
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Mas a sua fórmula, candidata…
Dilma Rousseff – Está produzindo… ela bateu todos os recordes, todos os recordes de produção. Inclusive a própria Agência Internacional de Energia reconheceu que ela teve um aumento extraordinário da produção: entraram as plataformas, entraram toda a produção. Esse será um imenso fator de crescimento para o Brasil: o pré-sal, o petróleo. A produção de petróleo é fundamental para o país. E isso é importante que fique claro, toda essa investigação sobre a Petrobras não compromete o ritmo de crescimento da sua produção, nem o desenvolvimento do pré-sal.
Miriam Leitão – Sobre a minha pergunta, então, a sua fórmula é menos estímulos e esperar os Estados Unidos?
Dilma Rousseff – Não, mas eu vou manter os estímulos enquanto a crise for grave, eu não quero aqui no Brasil o que acontece – porque você fala em crise, né Miriam? Agora, você esquece de contar que tem uma crise aí que é feroz, que inclusive não sou eu que estou falando, a ONU é que fala que tem uma crise gravíssima, que é a chamada “crise do emprego no mundo”. Se os 20 países mais ricos desempregam 100 milhões de pessoas e, se tem uma juventude inteira que é, que não tem perspectiva de trabalho, nem de emprego…
Miriam Leitão – No Brasil o desemprego de jovens é 17,7, é 13,7%?
Dilma Rousseff – E a escolarização de jovens também é um grande aumento, nós achamos…
Ana Paula Araújo – Pois é, candidata, a senhora tocou num ponto que eu queria conversar agora, sobre a Educação.
Dilma Rousseff – Que um dos fatores melhores dessa PNAD…
Miriam Leitão – Não, mas deixa só eu perguntar uma coisa.
Dilma Rousseff – Um dos fatores melhores da PNAD é isso.
Miriam Leitão – Pois é, se o jovem está estudando, ele não está na estatística de emprego, portanto, essa estatística de desemprego…
Dilma Rousseff – Não está?
Miriam Leitão – Não. Quem… só entra na estatística…
Dilma Rousseff – É que ela não capta, por exemplo, Pronatec.
Miriam Leitão – Ela não capta…
Dilma Rousseff – Pronatec.
Miriam Leitão – Ela só capta quem procura o emprego, quem está estudando ela não capta.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Ela capta quem está procurando.
Dilma Rousseff – Por exemplo, mas ela não capta quem está estudando no Pronatec, 8 milhões de pessoas ela não capta, ela não capta, ela capta só o curso tradicional.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Ela capta os que estão buscando emprego.
Miriam Leitão – Veja bem.
Dilma Rousseff – Ela capta…
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Os que estão procurando emprego.
Dilma Rousseff – Ela, ela, nós estamos falando de ocupados, nós não estamos falando de quem está buscando emprego.
Miriam Leitão – Candidata.
Dilma Rousseff – O conceito de ocupado é quem, naquele momento, estava empregado.
Miriam Leitão – Eu estou falando taxa de desemprego, a taxa de desemprego 13,7%, aí não entra quem está estudando e não está procurando emprego.
Dilma Rousseff – Veja bem, é diferente uma taxa de 3,7 é pleno emprego, não é?
Miriam Leitão – 13,7.
Dilma Rousseff – Não, não é isso.
Miriam Leitão – Desemprego de jovens.
Dilma Rousseff – Isso é taxa de ocupação, Miriam, não é taxa de desemprego.
Miriam Leitão – 13,7 taxa de desemprego da PNAD.
Dilma Rousseff – Isso é taxa de ocupação. A PNAD não olha desemprego, ela olha a taxa de ocupação. Quem é o ocupado? É aquele…
Miriam Leitão – Na PME é o mesmo número,
Dilma Rousseff – Não, a PME é outra coisa, a PME é diferente.
Miriam Leitão – Pesquisa Mensal de Emprego, a taxa de desemprego dos jovens é quase 14% no Brasil.
Dilma Rousseff – Nós temos pela PME a melhor taxa de desemprego de toda a série histórica: 4,9.
Ana Paula Araújo – Candidata só por causa do nosso tempo queria que desse tempo de a gente falar um pouco sobre educação ainda.
Dilma Rousseff – Espera-se que terá uma taxa parecida, ninguém tem no mundo taxa de 4,9, isso é inconteste, gente.
Ana Paula Araújo – Ok, candidata. Vamos falar um pouquinho, então, de Educação agora, que a senhora mencionou aí alguns programas do governo, só que, no entanto, os resultados nessa área ainda são decepcionantes, saíram agora os últimos números, a gente tem o IDEB, que é um termômetro da educação básica mostrando aí uma piora generalizada no ensino médio, ensino fundamental estagnado, tivemos também o Censo da Educação Superior, diminuição no número de universitários que se formam, redução no ritmo de crescimento das matrículas. É um quadro de crise também na Educação com esses péssimos números depois de 12 anos do governo do PT, três mandatos. A minha pergunta é: não é muito tempo para esses resultados tão ruins numa área que é, talvez, a mais importante?
Dilma Rousseff – Então, veja bem, você me fez quatro perguntas, eu quero o direito de responder as quatro perguntas, então vamos embora. Vamos olhar o que piorou no IDEB e depois vamos discutir o que tem de ser feito. No IDEB, melhorou bastante os anos iniciais.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Nós temos três minutos, então, para concluir.
Dilma Rousseff – Melhorou os anos iniciais, você vai concordar comigo, do primeiro ao quinto, nós cumprimos direitinho a meta e nos superamos. A escolarização do ensino fundamental do IDEB esteve além da meta.
Ana Paula Araújo – Mas tinha uma meta de acabar com o analfabetismo, era uma promessa sua, do presidente Lula, de campanha, de erradicar o analfabetismo, e ainda temos 13 milhões de analfabetos.
Dilma Rousseff – Minha querida, não, você não vai fazer três perguntas para mim, deixa eu acabar de responder, pelo amor de Deus, porque o debate é comigo, não é? Então, vamos embora. Então, olha lá, os dois anos, os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio de fato não estão bons, nós não conseguimos entrar na meta nos últimos anos do ensino fundamental, nos aproximamos. No ensino médio não nos aproximamos. Nós temos esse diagnóstico do ensino médio, tanto é assim que criamos o Pronatec. O Pronatec tem duas partes, uma parte é ensino técnico. Por que criar o ensino técnico? Porque o jovem do ensino médio, ele não pode ficar com 12 matérias, incluindo as 12 matérias Filosofia e Sociologia. Não tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas um currículo com 12 matérias não atrai no jovem. Então, nós temos de primeiro ter uma reforma nos currículos, e isso não é algo trivial, o governo não faz isso por decreto, porque tem todos os entes federados envolvidos.
Ana Paula Araújo – Mas em 12 anos não foi possível, candidata?
Dilma Rousseff – Calma, nós melhoramos muito, pega os dados, se você quer discutir os dados eu pego os dados, os dados são o seguinte…
Ana Paula Araújo – Nós temos os dados aqui.
Dilma Rousseff – Nós melhoramos imensamente. Nós voltamos a fazer teste, sabe por que, você sabe isso? Porque antes não tinha teste nenhum, agora tem Prova Brasil, Provinha Brasil, tudo é testado…
Miriam Leitão – O sistema de avaliação foi do governo anterior.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Olha, agora foi.
Dilma Rousseff – O sistema de avaliação do governo anterior, permitiu, inclusive…
Miriam Leitão – Foi a introdução.
Dilma Rousseff – … que as pessoas fizessem a passagem de um ano para outro sem teste, sem teste, nós acabamos com isso.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Agora, o Brasil investe pouco em Educação, candidata?
Dilma Rousseff – A tal da promoção continuada é algo que existia em São Paulo até há pouco tempo.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – O Brasil não investe pouco em Educação?
Dilma Rousseff – Não.
Miriam Leitão – Falando de avaliar a educação.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Porque, olha, dos 34 países que compõem a OCDE, dos 34 países na média do investimento deles, nós investimos um terço todos esses países, inclusive um terço do México, um terço do Chile.
Dilma Rousseff – Veja bem, oh, nós estamos investindo muito mais do que se investia antes, nós saltamos de algo com 30 milhões para 117 bilhões, cento e poucos bilhões.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Mas muito menos do que seria a meta, não é?
Dilma Rousseff – Não é bem 117, está em torno do patamar de 100 bilhões. O que é importante? Nós sabemos que não tem recursos significativos para a Educação, o que nós fizemos? Nós mandamos – eu acho que nós fizemos um ótimo trabalho em Educação, e eu vou dizer qual é, eu peço espaço para isso -, mas eu quero falar o seguinte: nós mandamos a Lei dos Royalties, 75% dos royalties e 50% do Fundo do pré-sal é destinado a quê? À Educação, com isso
nós vamos melhorar o ensino…
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Um minuto nós terminamos então.
Dilma Rousseff – O ensino básico, nós vamos melhorar, sobretudo, duas coisas: creche, alfabetização na idade certa e ensino em tempo integral. Vamos ter de mudar os currículos radicalmente. Agora, fizemos, passamos de 3 milhões de estudantes universitários nesse país para 7 milhões de estudantes universitários; pela primeira vez temos a quantidade de pessoas matriculadas em ensino técnico de 8 milhões, que não existia antes. O Governo Federal era proibido de investir em escola técnica, proibido. Hoje não, hoje nós criamos 436 escolas técnicas no Brasil, Institutos Federais de Educação e Ensino Técnico.
Chico Pinheiro (Apresentador Bom Dia Brasil – Globo) – Muito obrigado, candidata Dilma Rousseff, pela participação nessa longa entrevista aqui do Bom Dia Brasil.
Dilma Rousseff – E eu agradeço muito a vocês, espero ter assegurado uma maior compreensão do telespectador sobre os nossos programas.
Ana Paula Araújo – Obrigada, candidata.
Miriam Leitão – Obrigada.
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